“Quando nasceu, minha avó recebeu o nome de seu pai. Nunca vou saber o que se passava por sua cabeça quando ela resolveu trocar esse nome.
Escolheu o nome de sua tia de consideração – Neusa, que a acolheu no bairro de Perus quando chegara em São Paulo. Ao trocar, no próprio nome, o pai pela tia, minha avó cometia um ato de subversão. Escolhia para si uma outra história e uma família de consideração. Somados aos seus retratos, os registos dessa família são as únicas imagens que chegaram até mim.
Escolheu o nome de sua tia de consideração – Neusa, que a acolheu no bairro de Perus quando chegara em São Paulo. Ao trocar, no próprio nome, o pai pela tia, minha avó cometia um ato de subversão. Escolhia para si uma outra história e uma família de consideração. Somados aos seus retratos, os registos dessa família são as únicas imagens que chegaram até mim.
Anos depois de sua partida, meu avô ainda trocava a bateria do relógio dela, caso parasse. Nesse gesto, meu avô estendia, no ponteiro, as batidas de seu coração.
Fazia minha avó – presente. Memória pra mim é isso.
Fazia minha avó – presente. Memória pra mim é isso.
Esses retratos empratados são, curiosamente, minha primeira lembrança com fotografias. Na casa simples de meus avós, davam dignidade à nossa memória. São, portanto, uma escolha deliberada de autorepresentação.
Um documento do afeto. Meu primeiro arquivo de pesquisa.””
Um documento do afeto. Meu primeiro arquivo de pesquisa.””
Guilherme Bretas