Fran Chang

Fran Chang

n. Poços de Caldas, MG (1990)

Fran Chang é artista taiwanesa-brasileira, nascida em 1990. Graduou-se como Bacharel em Artes Visuais na Academia de Belas Artes de São Paulo, com extensão acadêmica em Astrofísica e em Astronáutica pela Universidade Federal de Santa Catarina. Chang recebeu o prêmio “Arte como respiro”, do Itaú Cultural, em 2020.

O trabalho da artista integra a coleção do MAR – Museu de Arte do Rio, selecionado pelo crítico e curador Paulo Herkenhoff. Teve sua primeira exposição individual na VERVE (São Paulo, SP), chamada “No mar com as estrelas”, em 2021, além de participar em outras exposições coletivas.

Chang também trabalhou como assistente no projeto na Bienal de Veneza (2017), no Centro Pompidou (2018) e na Bienal de São Paulo (2016). Trabalhou no departamento de restauro e conservação da Pinacoteca de São Paulo e desenvolveu pesquisas artísticas em ateliês em Londres e Taiwan.

"No mar com as estrelas", por Ana Carolina Ralston, 2021

Um sobrevoo pelo céu. Raios de sol atravessam as nuvens e tocam o chão, a água, a terra. As gotas que se acumulam em parte ou outra dessa amplidão azul condensam-se, transformando tal espaço. O vento sopra e invade a atmosfera inabitada por seres humanos, mas coberta por moléculas, que resistem e espalham-se. Aliás, é como se tivéssemos por alguns segundos parte de nossos átomos soltos no ar, observando esse espetáculo natural, e nos déssemos conta durante tal andança da nossa significância no mundo, tão singela quanto miúda, perto da imensidão que nos envolve.

As palavras parecem alcançar apenas parte do que a pintura da mineira Fran Chang nos faz sentir. As obras são como janelas, pelas quais é possível vislumbrar um mundo fantástico, que mistura o real e o imaginário em direção a lugares que podemos por ventura vir a conhecer pelo cosmo. Uma espécie de choque entre céu e terra, paisagens submarinas e estelares, que se espelham na criação de um novo mundo. O universo, inclusive, serve como base para esse salto sobre-humano da artista em direção à pintura. Bacharel em Artes Visuais pela Belas Artes de São Paulo, Chang fez extensão de seu curso em Astrofísica pela UFSC e Astronáutica pela UFSC. Esta formação lhe dá um olhar que viaja anos luz, destrinchado delicadamente pelas finas cerdas de seu pincel, que atravessam a seda, tecido primordial em seu ateliê.

De ascendência asiática, Chang traz mais que as características físicas de tal relação com o lado oriental da terra. Sua mãe nasceu no Taiwan e de lá trouxe costumes, estudos e ensinamentos passados de forma orgânica à filha, como o amor pelas técnicas manuais, pela moda e pela costura. Assim, antes de dedicar-se à pintura, Chang envolveu-se em tecidos e seguiu com seus olhos atentos a rota daquele que escolheria para esticar em seus chassis. A transparência da trama é um dos pontos inerentes de sua obra, que deixa a luz do ambiente fazer seu papel transformador em cada peça. A luz é parte fundamental da criação da artista, tanto a que ela própria desenvolve através das cores que elege para compor as pinturas, quanto a que perpassa pelo mundo que habitamos e realça cenas específicas da imagem que se integra em nossa frente.

Nas artes, trabalhou no núcleo de restauração e conservação na Pinacoteca do Estado de São Paulo, e foi assistente de nomes potentes da arte contemporânea atual, como Sofia Borges. A convite da curadora convidada da Bienal de 2018, realizou uma reativação da obra do Tunga, através da performance. De tais experiências, partiu em voo solo e logo foi laureada com o prêmio Itaú Cultural Arte como Respiro, em 2020. Tal universo de referências condensasse na mostra em cartaz na Verve Galeria, em São Paulo. O espaço, comandado pelo artista Allann Seabra e pelo arquiteto Ian Duarte, descobriu a produção delicada da artista em pesquisas pelo mundo virtual durante a atual pandemia sanitária, que tanto promoveu encontros cibernéticos frutíferos. Afinal, da escuridão faz-se a luz.

Mais que tudo, Chang é a tradução livre da tríade discutida por Platão, que transcorre sobre o bom, o belo e o verdadeiro. Seu universo é cheio de verdades. Não existem meias palavras em seu repertório, apenas o clarão que chega como luz diretamente aos olhos do espectador. A magia de sua produção é ciência, mas também poesia. É mar com estrelas.

Lista completa disponível no CV