Gustavo Rezende

Gustavo Rezende

n.Passa Vinte, MG (1960)

Em 1984, forma-se na Faculdade de Belas-Artes, em São Paulo, e realiza sua primeira exposição individual na Pinacoteca do Estado, “São Paulo: Paisagens Urbanas”.

Até o final da década de 80, participa de várias exposições coletivas no Brasil e no exterior e é convidado para mostras individuais no MAC-USP, onde apresenta uma instalação, e na Galeria Funarte. No início dos anos 90 é selecionado em dois programas de exposições: no Projeto Macunaíma, do Instituto Brasileiro de Arte Contemporânea/Funarte, e no programa de exposições do Centro Cultural São Paulo. Integra também, em 1991, a Bienal de Havana e o Panorama da Arte Atual Brasileira, organizado pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). Em 1993, recebe o Prêmio British Council Fellowship. No ano seguinte, com bolsa para estadia de um ano, é convidado para o programa de mestrado do Goldsmiths College, em Londres (Inglaterra), com o patrocínio do Conselho Britânico de São Paulo. Em Londres participa de exposições coletivas na Chisenhale Gallery e na Mall Galleries. Em 1995, de volta ao Brasil, apresenta no MAMSP as esculturas criadas e produzidas no Goldsmith College, que hoje integram o acervo da Pinacoteca do Estado.

Em 1996, realiza individual no Espaço Cultura Sergio Porto, e em 1999, integra, mais uma vez, o Panorama da Arte Brasileira com O Paradoxo de Thompson Clark e os Pesadelos de Mark. Em 2000, ganha a Bolsa Vitae de Artes com o projeto A Gratidão do Reencontro. Os resultados da pesquisa desenvolvida com a premiação são apresentados no ano seguinte em individual que traz texto crítico de Tadeu Chiarelli.

Desde 1995 leciona expressão tridimensional no curso de Artes Plásticas da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). Em 2004, conclui o doutorado em Poéticas Visuais – Produção Refletiva: Arte, Sujeito e Espaço –, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, sob a orientação de Carlos Fajardo. Em 2006, permanece por seis meses em Paris como artista residente na Cité Internationale des Arts/Estúdio Faap. Desde então, a evolução de seu trabalho tem sido objeto de diversas exposições individuais e coletivas, tendo recebido em 2010 o Prêmio Aquisição Pinacoteca do Estado na 6ª edição da SP-Arte, com a obra A Passagem do Tempo e a Natureza do Amor. Em 2013, a Pinacoteca do Estado organiza uma exposição individual de Gustavo Rezende na Estação Pinacoteca, com curadoria de Ivo Mesquita.

Em 2017, realiza exposição individual no Paço da Artes no Rio de Janeiro intitulada Amor Sagrado, Amor Profano e no ano seguinte realiza no MAM o Projeto Parede Crepe Garden. Em 2019 realiza site specific no Museu da Cidade de São Paulo – Casa do Bandeirante com projeto ganhador do Edital ProAC Artes Visuais.

"Gustavo Rezende", por Regina Teixeira de Barros, 2013

Nos quase dez anos de interesse pelas formas tridimensionais, a produção de Gustavo Rezende pode ser dividida em dois momentos. Inicialmente suas peças são ‘duplos’: duas formas por assim dizer iguais, postas lado a lado ou unidas entre si. Cada escultura é composta por formas semelhantes, tal qual uma equação matemática cujos termos se equivalem. São formas arquetípicas, como casas ou torres estilizadas, bastões e cajados, dorsos e ‘ossos’ em madeira ou madeira revestida. Mas os trabalhos não se atêm ao puro formalismo. Ao contrário, eles são apenas o ponto de partida — e de chegada — para um jogo, anunciado pelos títulos das obras. A identidade entre os termos é apenas visual, visto que os títulos lançam o observador para outra dimensão: a do jogo intelectual. É o título que fisga o observador e propõe enigmas a ser se não resolvidos, ao menos progressivamente elaborados.

O título desencadeia um processo de associações com a finalidade de determinar em que medida os termos propostos são análogos. Assim, nos perguntamos o que há de comum entre O imperador e seu dorso, entre The Hut and Our Lives ou entre O destino e a razão. Em que medida O observador e o ponto de fuga são a mesma coisa? O artista e o mundo animal são visualmente dois termos iguais de uma equação, mas onde reside tal equivalência? A provocação está feita. E as respostas invariavelmente se afastam do território das artes plásticas e adentram o reino da literatura, da filosofia, da religião (Cam e Sam), da memória (Fratelli e sorelli) ou das fantasias pessoais (The Princess and her Fate).

À pergunta lançada, o observador busca soluções próprias e retorna novamente ao objeto à sua frente, averiguando a síntese visual proposta pelo artista, num jogo circular, em que a obra é ao mesmo tempo ponto de partida e chegada.

Os ‘duplos’ são peças de parede, derivadas, por sua vez, do desenho e da pintura. A partir de 1995, a escultura perde a timidez e se apossa do espaço. Pai e filho (1991/92) é composta de duas cabeças estilizadas, um de madeira, outra de bronze, ambas peças de parede; agora Pai (1996) é um falo de madeira, sobre uma base, que se mantém em pé graças às firmes garras de uma morsa. Da mesma maneira, a Cabeça agigantou- se. Cheia de articulações, sai da parede e, pesada, repousa no chão.

A instalação apresentada no Espaço Cultural Sergio Porto (Rio de Janeiro, 1996) inverte relações previsíveis: os vasos/urnas (compostos por acúmulo de círculos recortados em papel corrugado) não contêm nada: nem flores, nem poções, nem ossos. Perdem sua funcionalidade e sua ancestral ligação com a terra. Sustentados por cabos de tensão, adquirem uma leveza que desafia não apenas o efeito da lei da gravidade como também configura a improvável suspensão do tempo.

Nos backlights Nine Feet Sculpture e Sem título (coleção Museu de Arte Moderna de São Paulo), Rezende continua suas pesquisas tridimensionais. Fazendo uso de imagens fotográficas—desde sempre planas—, provocantemente apresenta-as com um volume, criado pela caixa de luz. Dentro da diversidade de materiais, técnicas e perspectivas adotadas pelo artista, há um denominador comum em todos os momentos de sua produção: tanto na sua ‘matemática romântica’ quanto nas obras mais recentes, um fio de humor sutil perpassa o conjunto.

Lista completa disponível no CV