Shai Andrade

Shai Andrade

n. Salvador, BA (1992)

Shai Andrade ( Salvador, BA, 1992) transita no campo da arte movimentando a sua narrativa por meio da fotografia, vídeo e experimentações com arquivos. Tendo a escavação da memória afetiva como ponto de partida para a sua pesquisa, cria imagens-rituais que perpassam o corpo, gênero, raça e religiosidade afro-brasileira. É graduanda do Bacharelado Interdisciplinar em Artes com concentração em Cinema e Audiovisual, na UFBA. Atualmente é representada pela Galeria Verve e 0101 Art Platform.

Nos últimos anos, integrou exposições coletivas no Valongo Festival Internacional da Imagem, Goethe Institut Salvador, Glasgow Art International, Galeria Verve e Centro Cultural Brasil-México, onde também ministrou a oficina Fotografia e Memória através da plataforma de curadoria Flotar, além de feiras de arte no eixo Rio de Janeiro – São Paulo. Em 2020, integrou um dos projetos contemplados pelo  Fundo Emergencial para fotojornalistas, da National Geographic, executando o projeto SOLO – Mães Solo Vivendo a Pandemia no Brasil, ao lado de mais seis fotógrafas brasileiras. Em 2022, esteve no Júri do Prêmio DocF, concurso nacional destinado exclusivamente à Fotografia Documental de Família.  No cinema, atuou como segunda assistente de câmera,  em 2020 dirigiu a fotografia do curta-metragem de dança Sobre Nós Dois Ninguém Nunca Vai Saber de Tudo, dirigido por Carolina Miranda,  e em 20221 também dirigiu a fotografia de Egbe Orun, Àkaso Orun e Danhomey, vídeo performances  da artista Ana Beatriz Almeida.

"Shai Andrade", por Mateus Nunes, 2021

Através de um aparato reflexivo e espelhado, como a câmera fotográfica, Shai Andrade propõe uma reflexão crítica sobre o passado, escrevendo uma narrativa visual para o futuro. Essa dualidade epistemológica é uma análise crítica sobre o apagamento das histórias negras, somada à tentativa de embranquecimento dos frutos da mestiçagem e dos hibridismos culturais que acontecem no Brasil. As genealogias meticulosamente listadas das famílias brancas demonstram uma artificialidade engessada, contrastada e combatida pelo movimento amplo das forças fotografadas por Andrade.

Como um palimpsesto, pergaminho que é periodicamente raspado para dar lugar a um novo espaço de escritura, as histórias negras são continuamente vítimas de uma efemeridade das narrativas orais que as estruturam, perdidas em um sistema onde apenas o registro documental é tido como válido e consegue ser perene (o papel embranquecido, raspado, não seria um papel sem história?). Não nos enganemos: a iconoclastia da cultura negra é historicamente planejada.

Durante anos, Andrade registrou, através da fotografia e do vídeo, performances e expressões de artistas negros que compartilham dos seus mesmos valores narrativos. Recentemente, Andrade se colocou como artista, escrevendo sua própria narrativa ao investigar sua genealogia familiar, cultural e espiritual, retratando cenas do cotidiano que combatem o exotismo estereotipado que parasita essas imagens. A artista não propõe apenas uma investigação individual isolada, mas inserida em uma estrutura articulada que envolve diversas vozes, discursos e realidades. Como num ritual de cura, Andrade movimenta e glorifica essas imagens, que bailam e arrastam a luz nas suas fotografias, se comportando como entidades sempre presentes e que habitam entre o mundo da matéria e da ideia, reivindicando a divindade do humano e a humanidade do divino.

Nas fotografias de Andrade, os movimentos de afirmação e negação referentes à identificação histórica se afirmam com protagonismo. A artista devolve aos seus retratados o olhar que sempre foi negligenciado, usurpado à força pelas dinâmicas que giram em torno do homem branco. Não há, na fotografia de Andrade, o “fingir que não se vê”. Além disso, a artista questiona os paradigmas patriarcais que direcionam as dinâmicas sociais e propõe uma estrutura matrofilial, centrada na figura feminina como raiz das memórias coletivas. A dinâmica entre mestre e aprendiz, portanto, torna-se uma hierarquia respeitosa de sacerdócio feminino.

Andrade constitui, a partir dessas dinâmicas das narrativas intergeracionais, um patrimônio a ser herdado e resgatado. Em uma realidade em que quase tudo lhe foi tirado, a artista retoma a construção dessa herança cultural do povo negro, reconstruindo a casa, o templo, as estruturas, as luzes, as cores e a história.

Lista completa disponível no CV