Felippe Moraes

Felippe Moraes

n. Rio de Janeiro, RJ (1988)

Felippe Moraes é artista, pesquisador e curador independente desde 2009. Vive e trabalha entre São Paulo e Rio de Janeiro. Sua pesquisa está pautada pela relação das epistemologias com os fenômenos naturais e a espiritualidade, assim como a percepção do intangível. É mestre em arte contemporânea pela University of Northampton no Reino Unido e membro do conselho consultivo do MAC-Niterói desde 2022. Seus principais projetos individuais são “Solfejo”, apresentado no Centro Cultural FIESP em 2019 e em 2024 na CAIXA Cultural Brasília, assim como “Ovo Cósmico” (2023-24) na Galeria Verve. Em 2021 realizou “Samba Exaltação”, série de néons com citações de canções brasileiras, que ocorreu como intervenção urbana no Vale do Anhangabaú em São Paulo, depois como mostra individual no MAC-Niterói e como projeto especial no Museu de Arte do Rio. No mesmo ano, realizou “Samba da Luz” na Biblioteca Mário de Andrade e na Estação da Luz.

Anteriormente realizou as mostras individuais Imensurável (2018) na Caixa Cultural Fortaleza; “Proporción” (2018) no “Espacio de Arte Contemporáneo” (EAC) em Montevidéu; Cosmografia (2017) e “Ordem” (2014), ambas na Baró Galeria em São Paulo e “Progressão” (2016) no MAC-Niterói. É autor das obras públicas “Monumento ao Horizonte” (2016) em Niterói e “Monumento a Euclides” (2017) na Romênia. Esteve em importantes mostras coletivas como a 13ª Bienal do Mercosul (2022), com curadoria de Marcello Dantas, XIX e XX Bienal de Cerveira e Trienal Frestas (2014) curada por Josué Mattos e seu trabalho está em coleções como do Museu de Arte do Rio, MAM-SP, MACRS, MAC-Niterói e CCSP.

"Solfejo", por Julia Lima, 2019

“Atenção ao dobrar uma esquina”

Sons são elementos que nos conectam a transcendências, a memórias, a lugares, a pessoas. A música é uma manifestação presente em todas as culturas. É a passagem do tempo, é linguagem, é abstração. Imagens são construções de contrastes, contornos e matérias; ilustram ideias, desencadeiam fantasias, concretizam emoções e fixam a história. A nem sempre imediata relação entre imagem e som é inaugurada liricamente pelo mito de Eco e Narciso – ele, um belo jovem que nascera sob a premonitória advertência de um oráculo de nunca ver sua própria imagem sob risco de morte; ela, uma ninfa que tinha corpo, mas não tinha voz, amaldiçoada por falar demais a apenas repetir as últimas palavras que escutava. Aí reside a tragédia: a visão de si, que pode ser um outro, e a voz do outro que volta como a minha própria. Narciso viu-se no espelho d’água e, encantado pelo próprio duplo, afogou-se na sua imagem e virou flor. Eco, apaixonada por Narciso, nunca conseguiu comunicar seus sentimentos: assustando o belo moço com os ecos, viveu escondida em uma gruta até virar apenas voz e ossos – tornou-se pedra.


Ao entrar nesta exposição poderemos nos surpreender com a inesperada e potente consonância entre visualidade e música que informa estes trabalhos de Felippe Moraes. Mesmo não sendo músico, matemático, ou astrofísico, o artista lança mão de todos esses assuntos em trabalhos tão poéticos quanto científicos; tão racionais quanto afetivos; tão destoantes quanto uníssonos. Há uma clara racionalidade musical nas experiências sensoriais desencadeadas pelas obras, ao mesmo tempo que a natureza lúdica da interação e cooperação nos transporta a estados mais surreais e inconscientes.


O corpo, por sua vez, é implicado essencialmente em quase toda a mostra, que deve ser usufruída em comunidade. A introspecção singular usualmente reservada à contemplação de obras fixas na parede dá lugar a vivências compartilhadas. Estaremos envolvidos em ruídos incontroláveis, enredados em aromas repentinos, convidados a aproximarmo-nos uns dos outros. A coletividade essencial às obras pode ser democraticamente libertadora e, juntos, nossos corpos alimentam suas potências, informam outras histórias, vibram futuros possíveis. Esse momento não será repetido, mas será vivido de novo e de novo e de novo.

Lista completa disponível no CV