Giselle Beiguelman

Giselle Beiguelman

n. São Paulo, SP (1962)

A pesquisa de Giselle Beiguelman passa pelos campos da preservação de arte digital, as estéticas da memória no século 21 e arte e ativismo na cidade em rede. Desenvolve projetos de intervenções artísticas no espaço público e em mídias digitais. É professora Livre-docente da FAU-USP e foi coordenadora do seu curso de Design de 2013 a 2015. É membro do Laboratório para OUTROS Urbanismos (FAUUSP) e do Interdisciplinary Laboratory Image Knowledge – Humboldt-Universität zu Berlin. ⠀

Entre as exposições que já participou, destacam-se Memórias de Areia, no Cassino da Urca, Rio de Janeiro (2017); Cinema Lascado, na Caixa Cultural de São Paulo, e Quanto Pesa uma Nuvem?, no Galpão Videobrasil, ambas em 2016; Memória da Amnésia, uma intervenção no Arquivo Municipal (São Paulo, 2015), Odiolândia (2017), Art Supermarket (VII Mostra de Arte Digital 3M, 2017) Net_Condition (1999) e Algorithmic Revolution (2004-2008), no Zentrum für Kunst und Medientechnologie (ZKM), Karlsruhe, Alemanha; participa da 25ª Bienal de São Paulo (2002), da exposição El Final del Eclipse (2001-2003), na Fundación Telefonica, Madri e América Latina; da Bienal de Sevilha (2008) e da 3ª Bienal da Bahia (2014), realizada no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA); e ainda “Unplace”, na Fundação Calouste Gulbekian, em Lisboa (2015); entre outras. Em 2022 é uma das artistas que integra o 370 Panorama da Arte Brasileira no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP)

Seu trabalho integra importantes acervos públicos no Brasil e no exterior, como ZKM (Alemanha), Yad Vashem (Israel), Latin American Colection – Essex University (Inglaterra), o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) e a Pinacoteca do Estado de São Paulo, assim como o Jewish Museum Berlin. Foi editora-chefe da Revista seLecT (2011-2014) e é colunista da Rádio USP e da Revista Zum. Foi curadora de Arquinterface: a cidade expandida pelas redes (Galeria de Arte Digital do Sesi, São Paulo, 2015) e Tecnofagias (3a Mostra de Arte Digital 3M, Instituto Tomie Ohtake, 2012).

Trecho de "Giselle Beiguelman: um pequeno tratado do vandalismo", por Paulo Herkenhoff, 2019

Depois de longa trajetória intelectual, Giselle Beiguelman tornou-se uma referência para a arte em novos media tecnológicos no Brasil, e nesta década tem se demonstrado uma artista perturbadora no campo da escultura e das instalações movidas por grande potência ética. Em virada radical, a agenda de Beiguelman na década de 2010 ficou focalizada na crítica da intolerância com as diferenças, na dialética entre pessoas e marcos históricos e na impermanência dos monumentos memoriais. O inconsciente arquitetônico de Beiguelman se reflete nas instalações da agenda urbanística (Já é Ontem?, 2019), sobre as destruições na gentrificação da zona portuária do Rio), as cidades da crueldade (Odiolândia e Odiolândia Marielle, de 2017 e 2018, e que em Miguel Rio Branco é Maldicidade), na elevação de monumentos (a partir de sua destruição, como em Memória da Amnésia (2015) e Cinema Lascado: Perimetral (2016), na imantação de espaços tomados como lugares com história nas cidades e a arquitetura do heteróclito (a montagem, em São Paulo, do Monumento Nenhum no Beco do Pinto colonial e de Chacina da Luz no Solar da Marquesa de Santos), entre muitos outros aspectos. Em Origem do drama trágico alemão, Walter Benjamin se voltou ao problema da história descontínua com a proposta de que a alegoria seja uma estratégia apropriada para a representação do passado. A posição de Benjamin se aplica ao método alegórico crítico de Giselle Beiguelmam de apresentar o passado em múltiplas entradas. A heterologia de seu método, a mescla de códigos estilísticos antagônicos, a qualidade das pedras e de sua lavra, e a origem dos fragmentos transformam Monumento Nenhum em monumentos aporéticos.

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O corpus de Giselle Beiguelman nos últimos anos expõe o mal-estar da sociedade brasileira, em sua crise de barbárie e de derrocada da civilização, pois cabe sempre aqui aludir a Freud. Em campo próprio, a tarefa que Beiguelman definiu para sua arte é escarafunchar a amnésia social, visitar as dobras da alma, revolver o mais doloroso, arrimar-se na ética, desocultar o indizível, explorar a arqueologia dos tempos desiguais, expandir a linguagem crítica em alta voltagem, surpreender com a invenção singular da cultura, espancar a corrupção moral, mapear a desigualdade, conturbar os violentos que agem contra os socialmente frágeis, aliar-se ao frágil, chacoalhar as certezas do poder, desatinar os satisfeitos, aliar-se ao homo sacer, desnudar a vida nua, violentar a violência da biopolítica, assumir o luto social, romper o contrato social do silêncio, continuar porque a República dos toscos vai passar, assumir sua fúria cívica, exercer sua vontade de potência e gorar o ovo da serpente.

Lista completa disponível no CV