Em seu trabalho, Luisa Malzoni costura diferentes dimensões da memória. Álbuns de família, objetos herdados, peças de roupa e tecidos antigos são resgatados do passado e ressignificados no presente por meio de processos artesanais, como as técnicas fotográficas do século 19.
Assim são as séries Tessituras, que compõe uma colcha de retalhos fotográficos e partir do vestido de noiva da avó da artista, e Organdie, em que fotos antigas são impressas com cianótipo em tecidos. Já em Memórias esquecidas, fotos e álbuns antigos sofrem intervenções de técnicas manuais, como pintura em aquarela e revestimento em gaze.
Para a série Estereoscópicas, Luisa registrou diversas imagens em estereoscopia e desenvolveu, em madeira, o visor binocular. Este trabalho explicita ainda como a artista, restauradora de filmes na Cinemateca Brasileira desde 2005, dialoga, em sua produção autoral, também com as primeiras técnicas coloridas utilizadas no cinema: os detalhes coloridos de “Serpentine dance” lembram os fotogramas coloridos à mão que registravam a bailarina norte-americana Loie Fuller (1862-1928).
Formada em fotografia pelo Senac, Luisa foi influenciada pelo professor Kenji Ota, reconhecido fotógrafo paulistano, interessando-se por experimentações com processos como albúmen, goma bicromatada e marrom vandike, além do cianótipo. Desde 2021, desenvolve na USP pesquisa de mestrado sobre o restauro da cor do cinema silencioso no Brasil.
Representada pela Verve Galeria desde 2013, participou de inúmeras exposições no Brasil e no exterior, e possui obras no Museu de Arte do Rio – MAR. Ganhou o prêmio Jabuti 2020 na categoria capa, com o livro Penitentes – dos ritos de sangue à fascinação do fim do mundo, do fotógrafo Guy Veloso, junto com as artistas Beatriz Matuck e Isabel Santana Terron.
Texto: Luisa Destri