SP-Arte 2021
20.10-24.10.2021

SP-Arte 2021

Francisco Hurtz, Alair Gomes 20.10-24.10.2021

SÉRIE ‘EU E OS OUTROS’ [2013-2018], FRANCISCO HURTZ

A masculinidade se dá pela aprovação do olhar do outro homem na sociedade: é um conjunto de regras, códigos e condutas que definem características comuns desejáveis aos homens. Qualquer rompimento dessas regras no convívio social é imediatamente denunciada e punida, como numa disputa onde existem perdedores e vencedores.

Aos vencedores: a glória, o pódio, o exemplo, o prêmio, a eternidade; aos perdedores: a humilhação, a invisibilização, o apagamento, o esquecimento, o silêncio. A sociedade se exerce em campos de forças de dominação onde a desigualdade estrutural é o fator principal para que haja a conservação do status quo. Dominantes serão sempre dominantes, dominados serão sempre dominados, essas são as regras do jogo.

Como nos esportes, a sociedade elege regras que definem quem perde e quem vence; as regras, estratégias e campos de disputa; as noções de sucesso e fracasso; sentimentos de coletividade, pertencimento e competição; também a paixão pela disputa e a identificação do adversário. Na série Eu e os Outros, Francisco Hurtz investiga o Patriarcado através da metáfora das competições esportivas em seu universo Queer.

SYMPHONY OF EROTIC ICONS, DE ALAIR GOMES

Esta narrativa visual é dedicada ao toque. Ao toque em si, ao toque no outro, ao toque impossível, ao toque observante. Em tempos em que aos poucos voltamos à fisicalidade das interações, retoma-se um toque sempre censurado e velado: o do desejo homoerótico, o toque corporal íntimo entre homens. A VERVE traz à SP-ARTE a tensão do não-toque na obra de Alair Gomes, um dos maiores fotógrafos de nus masculinos do mundo, com obras no acervo do MoMA de Nova York, do MASP e da Fundação Cartier, em Paris.

Esta sinfonia de ícones eróticos, advinda da coleção de Renata Phoenix, demonstra que a preocupação fundamental do fotógrafo não é sobre o toque em si, mas sobre as diversas possibilidades que orbitam em torno do toque. Afinal, ícones são possíveis de serem tocados?

Ao expor seu desejo, Gomes o protege: coloca e exibe o corpo que não tocou em uma redoma, proibindo o toque futuro. Onde a privação e a revelação estão lado a lado, decreta-se que esse corpo, de agora em diante, só será tocado pela luz.

Nas fotos, a luz toca, roça e excita o corpo onde a língua é tímida, fazendo-a tocar o céu da boca de quem observa ditando a musicalidade inerente ao corpo que se deseja: ora sereno, ora brutal. Esse áspero baile entre o corpo e a música na dança do querer-possuir agitam as estátuas de carne viva fotografadas por Gomes, na tensão do que se pede à pele.

Usualmente, a plataforma da fotografia é utilizada para proporcionar uma identificação do espectador com o retratado. Nesse caso, entretanto, a dinâmica se altera: identificamo-nos com o fotógrafo, que reprime o toque, almeja a contemplação e permite que o corpo desejado interaja com seu maior aliado, quem ele nunca será capaz de ser: a luz.