As pinturas que Adriel Visoto nos apresenta em ‘Não me espere para o jantar’ abrem o Ciclo de Exposições 2017 do Edital para artistas mineiros do Memorial Minas Gerais Vale e nos convidam a um deslocamento para as sutilezas e repetições típicas dos espaços domésticos.
O quarto, o banheiro, o espelho e a sala com todos os objetos expostos em uma completa desordem parecem se misturar aos sujeitos que com gestos ordinários habitam aqueles espaços.
Quando nos detemos diante das séries de quadros, quando estamos mais próximos, as imagens revelam composições formais que se repetem, muitas vezes, com o mesmo fundo, performances comuns distantes do recorrente gesto espetacular que caracteriza as representações do sujeito que vemos circular hoje em dia. Os quadros acionam um inventário de nossas relações com os espaços domésticos, com as intensidades ordinárias do cotidiano e com um certo modo de articular a experiência estética que a vida cotidiana pode guardar no cerne de suas exaustivas repetições.
O jogo proposto por Visoto entre o voyeur e o exibicionista nos envolve pelo modo como mostra em um outro lugar os espaços semelhantes aos que habitamos e os mesmos gestos que repetimos exaustivamente, como tomar banho ou trocar de roupa. Tudo parece doméstico e comum, mas o mesmo tempo há algo estranho.
Talvez esses pequenos fragmentos cotidianos materializados na pintura parecem colocar em tensão as formas mais tradicionais de representação com a pose para o retrato ou mesmo toda a história do autorretrato. Ao trazer o privado e o íntimo ao público, de forma muito silenciosa e nem um pouco espetacular, Visoto promove um confronto entre o tom ordinário de suas representações em meio a outras tantas imagens banais no ruidoso movimento das imagens que colocamos para circular agora, prontas para a mais extrema visibilidade.
No entanto, as imagens de Visoto se distinguem de outras imagens banais porque ativam outras estratégias de representação, um rearranjo dos espelhos entre o eu e o outro, tensionando as formas de representação. Outros jogos de sentido entre o retrato, o autorretrato e a autoficção da imagem de si. Na era do selfie, da autorrepresentação acionada pelas demandas de visibilidade da rede, as pinturas de Adriel Visoto colaboram para acionar as ambiguidades e complexidades típicas do sistema contemporâneo das imagens também no domínio da pintura.